Moncho Valcarce foi sobretudo um cura: “o cura das Encrobas”, ainda que a sua paróquia foi Sésamo. Ser padre não foi para ele algo secundário, mas algo fundamental: a raiz do seu compromisso com os labregos e com Galiza. A sua identidade como padre e o seu compromisso nacionalista-revolucionário estiveram sempre unidos desde que descobriu o que significava realmente ser cristão: “Vós fixestes de min un crego, e un crego galego –escreve nos seus diarios falando da xente de Sésamo-. Vós ensinástesme a vivir o Evanxeo libertador, que esixe viver a realidade, servir, non ser servido” 1
“O meu servizo político é unha obriga da fidelidade a Xesús e amor ao pobo, que non son cousas diferentes”
Porém, não soube entendê-lo a sua Igreja. Tampouco o entenderam bem os camaradas da política; e o povo… só um pouco. Quando morreu publiquei um artigo que ainda me parece atual: “Moncho Valcarce, el ultimo cura comunista” (Alandar).
Porque Moncho não era da casta clerical. Estava nas antípodas dos “desertores do arado”; fez o caminho inverso e quis por vontade própria ser realmente um “cura galego”, ainda que isto o convertesse num “cura maldito”: “Vexo a miña misión como crego tal como a realicei dende que me ordenaron, o que supuxo e supón cadeas, golpes, torturas e moito medo e desgustos”, escreve no Diario de Exericios Espirituais 2.
Em Sésamo, pratica um novo estilo pastoral: gratuidade do ministério, singeleza e compromisso com a realidade social do povo, galeguização da liturgia e compromisso sociopolítico. “O meu servizo político foi e é unha obriga da miña fidelidade a Xesús e o meu amor ao pobo, que non son cousas diferentes, senón unha soa fe e un só amor, que trae como consecuencia inevitable a cruz” 3
Mas, ademais de padre e militante, Moncho era um místico. A mística leva a uma maior implicação na realidade. Uma Realidade que é única, quando é vista de maneira não dualista, além das divisões matéria-espírito, Deus-Mundo. A mística como experiência de que não há separação entre Deus e o ser humano, mas um espertar a Consciência Divina em nós, experiência da Unidade.
Chama a atenção nos textos de Moncho o devezo dos místicos: “ser um com Deus”; estar intimamente unido a Ele; sentir-se até tal ponto vinculado a Ele “que os dois sejamos um”, escreve no Caderno verde (no livro citado). No Diario de Exercicios Espirituais fala da sua espiritualidade como “união com o Um”, e com tudo. Merece a pena ler para rematar este texto seu:
“Un non instalado ten agarimo a todo, sempre amará a totalidade… É coma un profeta! Ao profeta móveo Deus, a totalidade, e decátase que ante o Todo, o particular non é ren…Todos somos Un!… Deixa que Xesús entre en Ti… Comprenderás o Un, non serás nin un ladrón, nin un mercenario que só anda pola paga”.